Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde
Sílvia Silva
Atualizado: 23 de ago. de 2022

A literacia em saúde, em
concreto, trata-se da competência que a pessoa tem para aceder, processar
cognitivamente, assimilar as informações de saúde e mobilizá-las no seu quotidiano,
de forma a adotar comportamentos promotores de saúde.
A literacia trata-se de uma competência fundamental para uma vida de sucesso, para qualquer ser humano, nas mais diversas áreas da mesma. A literacia em saúde, em concreto, trata-se da competência que a pessoa tem para aceder, processar cognitivamente, assimilar as informações de saúde e mobilizá-las no seu quotidiano, de forma a adotar comportamentos promotores de saúde. Ora, por isto se entende que o acesso à informação, sendo importante, não garante, per si, que essa informação seja devidamente processada e integrada como fazendo parte do estilo de vida daquela pessoa. A capacidade cognitiva é outra dimensão muito importante a considerar em literacia em saúde, daí a importância de se conhecerem as características do público-alvo das intervenções e da adequação da linguagem a utilizar, bem como a(s) estratégia(s) a escolher para que a mensagem seja adequadamente compreendida pelo recetor da mesma. Este é um dos grandes desafios da atualidade dos profissionais de saúde, tornarem-se compreensíveis, seja na esfera pública (exemplo recente deste desafio foi a comunicação efetuada durante a pandemia COVD 19) ou comunitária, seja em contexto de consulta.
Desenvolver uma capacidade comunicacional recetiva e assertiva é essencial para se estabelecer uma relação terapêutica, considerando a competência comunicacional uma das competências fulcrais dos profissionais de saúde para a adesão dos comportamentos favorecedores de saúde por parte dos seus clientes. Exatamente porque a literacia inclui a dimensão emocional da pessoa, ou seja, o desenvolvimento e/ ou mobilização das suas soft skills é importante que o profissional de saúde seja capaz de instituir estratégias que promovam a motivação, o locus de controlo interno que a pessoa possa ter mais ou menos desenvolvidos vão permitir conduzir à adesão ou não de determinados comportamentos, o que se traduzirá em maior ou menor nível de literacia.
O nível socioeconómico da pessoa, sendo um determinante de saúde que, como se sabe, tende a favorecer hábitos mais favoráveis no que respeita à evicção de problemas de natureza transmissível, já não se verifica como sendo protetor quando se fala de doenças crónicas.
Apesar do conceito de literacia em saúde ter a sua origem há algumas décadas (1970), é hoje reconhecido, nacional e internacionalmente, como uma competência fundamental a ser avaliada e promovida na população na medida em que se verifica que os níveis de saúde da população não são diretamente correlacionáveis com a disponibilidade de informação que atualmente existe Torna-se, por isso, premente aposta no investimento dos níveis de literacia da população, na medida em que mais literacia, promoverá melhores cuidados de saúde e pessoas mais saudáveis. Neste sentido é desafiante o futuro, mas creio que frutuoso o trabalho a incrementar (muito já tem sido feito) de forma a desenvolver instrumentos válidos que permitam a monitorização dos níveis de literacia da população portuguesa.
A comunicação em saúde, em concreto, no âmbito comunitário, é uma área de
profundo interesse na atualidade, uma vez que sou Enfermeira de Saúde Escolar e trabalho diariamente com crianças e jovens dos 3 aos 18 anos, bem como, com a comunidade educativa, docentes, não docentes e encarregados de educação, no sentido de promover estilos de vida saudáveis. Em relação ao ambiente escolar, que é fundamental que seja promotor de saúde, ainda há um longo caminho a percorrer, no debate que se impõe do que deve ser isto considerado. Quando me refiro ao ambiente, refiro-me ao ambiente social e físico, à falta de equidade entre escolas no acesso a um ambiente saudável, seja no que se refere à disponibilidade da qualidade dos alimentos fornecidos, aos espaços adequados para atividade física, nomeadamente, nos intervalos escolares, ambientes que provam a decisão democrática dos consumos, entre outros. Na atualidade, o estímulo ao recurso de veículos não motorizados é emergente, mas em muitas cidades do país, não existem passeios seguros ou vias específicas para trotinetes ou bicicletas que permitam que as pessoas se desloquem em segurança. Acresce o facto de que na área peri-escolar não existem locais para estacionamento destes equipamentos. Desta forma, considero que é fundamental, que em saúde se alie o conceito de literacia ao conceito de nudge, isto é, a importância de providenciarmos que a informação chegue de forma adequada e motivadora para se desenvolver a competência favorecedora de hábitos saudáveis, mas, que também o ambiente seja propício ao mesmo, estimulando estes hábitos de vida de vida, não impedindo, porém, o uso do livre-arbítrio de cada um, que o regime democrático em que vivemos garante.
Doutora Sílvia Carla Carvalho da Silva