Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde
Berta Augusto

O ser humano encontra-se em constante mudança, ao longo do seu ciclo vital. Embora decorrendo de uma forma natural, os pontos de transição de um estágio para outro, são frequentemente geradores de vulnerabilidade, podendo produzir efeitos negativos sobre o estado de saúde das pessoas.
Pensar Literacia em Saúde
O ser humano encontra-se em constante mudança, ao longo do seu ciclo vital. Embora decorrendo de uma forma natural, os pontos de transição de um estágio para outro, são frequentemente geradores de vulnerabilidade, podendo produzir efeitos negativos sobre o estado de saúde das pessoas. Podem ainda ocorrer na vida do indivíduo outros eventos críticos como a doença, a hospitalização, a gravidez, a parentalidade, a (i)migração, a aposentação, a assunção do papel de cuidador e a morte de pessoas da esfera nuclear, potenciadores de maior insegurança, perda de autonomia e qualidade de vida.
A literacia em saúde é na verdade um tremendo suporte do cidadão para gerir eficazmente estas transições que acontecem de forma assídua na sua vida. Esta, pela sua transversalidade e potencial integrador, torna-se determinante para que as pessoas se consciencializem da necessidade de adotar comportamentos facilitadores dos processos adaptativos e promotores de saúde ao longo do percurso de vida. Simultaneamente instiga a ativação do comportamento preventivo dos indivíduos para o controlo dos fatores de risco comprometedores da sua qualidade de vida, bem como a proatividade e responsabilização no processo de gestão da sua doença e da de quem deles depende.
Pensar Literacia em Saúde significa tomar por foco dos cuidados a pessoa, reconhecendo-lhe o direito de ser responsável pelo seu projeto de saúde, sendo o seu grau de envolvimento determinado pela sua volição e pelas competências cognitivas e biopsicossociais que lhe permitem aceder, compreender e usar a informação de forma consciente e responsável na tomada de decisões sobre a sua saúde.
É um processo estruturante e qualificante a nível individual e coletivo, porquanto centrado no empowerment e autonomia da pessoa utilizadora dos cuidados de saúde, mas também na capacitação e intervenção de diferentes stakeholders, particularmente dos profissionais de saúde, para serem agentes promotores de contextos favoráveis ao desenvolvimento da literacia em saúde.
Embora a literacia em saúde seja um processo em crescendo na última década, urge apostar fortemente no seu desenvolvimento e afirmação. Para isso será necessário que as políticas de saúde sejam concebidas com o foco naqueles a quem se destinam, nas suas necessidades, nas suas desigualdades sociais, nas suas fragilidades/vulnerabilidades. Será igualmente essencial que as organizações de saúde sejam pensadas e estruturadas em função dos seus utilizadores, ouvindo-os e envolvendo-os nas decisões, apostando também na formação dos seus profissionais de saúde, que fazem a diferença e que prosseguem a qualidade a caminho da excelência, sendo determinante que estes, na interação com as pessoas, centrem a atenção na sua capacitação, utilizando uma comunicação assertiva, clara e positiva, validando a compreensão da mensagem e promovendo o seu uso adequado, construindo uma verdadeira cultura de Literacia em saúde. A criação da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde será estruturante para a construção de boas práticas de Literacia em Saúde.
E se cada um de nós, neste percurso da Literacia em Saúde “plantar uma árvore” certamente que um dia teremos uma “floresta” que contribuirá para vivermos com mais saúde, melhor qualidade de vida e mais bem-estar.
Berta Augusto Vice-Presidente da Assembleia Geral