Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde
Ana Massena
Atualizado: 23 de ago. de 2022

A literacia em saúde é uma problemática atual e de importância crescente á medida que o conhecimento científico vai-se ampliando e o mundo vai mudando a uma velocidade vertiginosa
A literacia em saúde é uma problemática atual e de importância crescente á medida que o conhecimento científico vai-se ampliando e o mundo vai mudando a uma velocidade vertiginosa. Em termos de literacia em saúde já vamos atrasados e temos de apanhar um barco que está sempre a acelerar... É um problema sentido por todos, utentes, familiares, profissionais de saúde, organizações. Atravessa todas as áreas da saúde de uma forma transversal da prevenção, ao diagnóstico do tratamento á reabilitação e aos cuidados paliativos. Trata-se de um trabalho herculo fornecer os cidadão de informação de saúde que eles possam utilizar nestas áreas e que se traduza em ganhos em saúde.
Falarei nas áreas onde tenho mais experiência e onde sinto a falta de literacia com uma maior intensidade e noutras onde prevejo que esta seja ainda mais vital. A prevenção quer seja nos estilos de vida saudável, quer nos rastreios, desempenha um papel fundamental na prevenção de doenças crónicas que serão a principal causa de morte nos próximos anos, numa população com uma longevidade cada vez maior. Entre elas falo especialmente do cancro, dado ser a minha área de intervenção, na qual os rastreios tem diminuído a mortalidade de uma forma significativa, sendo essencial a população ser informada sobre a necessidade e benefícios dos rastreios, quais existem, quando devem ser realizados e com que periodicidade. Na doença oncológica os estilos de vida são fundamentais, sendo essenciais na prevenção, pelo que a divulgação de estilos de vida saudável e a promoção dos mesmos tem um valor inequívoco.
Nesta área a comunicação é particularmente difícil em 3 áreas: no diagnóstico, no tratamento, na paliação.
Por motivos culturais trata-se de uma doença que tem sido mistificada ao longo do tempo e que só recentemente a população em geral tem conhecimento que cada vez mais é uma doença crónica e não uma “sentença de morte” cujo nome deve ser omitido e tratado na terceira pessoa como “ a lesão “, “ a doença ou qual outro termo. No tratamento: a linguagem é extremamente complexa, sendo difícil “descodifica-la”, isto toma tempo e não é numa consulta com tempo pré definido que isso se consegue. E O consentimento informado é um problema importante, com implicações legais, trata-se de uma situação de contornos extremamente complexos pois engloba o consentimento de tratamentos com drogas de que o doente não tem poder critico ou de opção a não ser pelos efeitos benefícios que traz e os efeitos secundários descritos. Porem não sabe escolher entre um esquema de drogas ou outro. Nos cuidados paliativos, o problema é ainda mais complexo, são ainda comparados como uma “antecâmara” da morte, como um desistir dos profissionais, não com uma
forma de melhoria de qualidade de vida. A comunicação social não tem ajudado neste aspeto apresentado apenas casos dramáticos de doentes terminais fazendo os utentes identificar diretamente cuidados paliativos com doença terminal. E finalmente a digitalização da saúde que está a entrara em força com apps, plataformas, sistemas de monitorização, tele consultas, prescrição electrónica... Estamos num pais com uma população idosa predominante, em que as skills digitais não existem. Temos de educar para a digitalização isso também implica garantir que todos tenham aparelhos com acesso á internet, acesso á internet de banda larga a preços acessíveis, formação e apoio em skills digitais. Sem garantir estas premissas estamos a promover a desigualdade e a iliteracia em saúde.
Ana Massena
Oncologista
Mestre em Cuidados Paliativos